O Judoka, de Mario Lima

Mario Lima foi o segundo desenhista das histórias de O Judoka, personagem criado por Pedro Anísio para a Ebal, cuja primeira história – O Shiram Mágico – teve o traço simples e inconfundível de Eduardo Baron.

O Judoka, desenho de Mário Lima

Mario também foi o desenhista que produziu mais histórias para o famoso super-herói brasileiro: 12 no total. Sua estreia aconteceu na aventura A Quadrilha de Mulheres, publicada logo na segunda edição com o personagem brasileiro, O Judoka #8. Em seguida, ele desenhou as histórias publicadas nos números 10, 11, 12, 13, 15, 18, 19, 21, 22, 25 e 51.

A imagem acima, desenhada por Mario Lima, é um detalhe da capa da revista O Judoka #10, publicada em janeiro de 1970. Abaixo, mais dois desenhos dele: a capa de O Judoka #18 e uma Galeria dos Heróis, com o casal de Judokas, publicada na revista O Judoka #52.

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Um super-herói brasileiro

A primeira aparição do herói brasileiro O Judoka aconteceu na revista de mesmo nome, lançada pela Ebal em outubro de 1969. Na realidade, era a sétima edição dessa publicação, que nas primeiras seis edições teve como personagem principal, Judô Master, um herói americano criado por Joe Gill e Frank McLaughlin para a Charlton Comics.

A seguir transcrevo o texto de apresentação do personagem brasileiro, que foi publicado na página 2 da revista:

“Quando resolvemos lançar um novo personagem, pedimos ajuda ao Pedro Anísio. Para quem não sabe, o Pedro já trabalhava conosco, desde longínquas e priscas eras – vem desde os tempos do Suplemento Juvenil, quando, ainda ajudante de tipógrafo, escrevia reportagens, contos e crônicas. depois, passou-se para as Rádios Tupi e Nacional, onde, durante anos a fio escreveu novelas. Ele, Ghiaroni O Judoka, por Eduardo Barone Hélio do Soveral foram, por mais de trinta anos, criadores de milhares de novelas radiofônicas. E os três fazem parte daquela geração do Suplemento Juvenil. Pois bem, foi ao Pedro Anísio, autor de muitas histórias escritas especialmente para a Ebal (Pedro Álvares Cabral, A Independência do Brasil, A Libertação dos Escravos, A História do Petróleo – uma publicada, outras por publicar), foi a ele que pedimos a “bolação” dos textos e situações do nosso novo herói – O Judoka. E o Pedro, como sempre, desincumbiu-se maravilhosamente. O homem é, mesmo, um dos grandes ficcionistas desta terra.

Os desenhos deste primeiro número foram feitos pelo Eduardo Baron, jovem artista de 22 anos, do nosso estafe de desenhistas, que se desincumbiu a contento. Vejam só que traço e que soluções ótimas ele teve. O Eduardo vai longe.”

A capa dessa revista ficou a cargo do talentoso Monteiro Filho, grande desenhista que trabalhava com Adolfo Aizen (dono da Ebal) desde a época do Suplemento Juvenil.

Abaixo, uma montagem a cores com o desenho do Eduardo Baron que pode até ser usado como papel de parede em seu computador. Todos os desenhos que ilustram este texto, podem ser baixados em ótima resolução.

Henfil maravilha!


Por Paulo Chico

O fato de que os cartunistas têm como esporte predileto as críticas ácidas e bem-humoradas ao poder não é uma novidade. O inédito, no caso do mineiro Henfil, é que nunca se vivenciara a experiência de um artista que, munido de seus traços finos e metralhadora de grosso calibre,
conseguiu exercer tamanha influência direta sobre os rumos políticos do País. Nos mais diversos veículos, Henfil incumbiu seus personagens de apontar os desmandos de um Brasil que sobrevivia sob regime ditatorial. E de lançar luzes sobre as mazelas cotidianas de um povo acuado. Ele combateu a ditadura, abraçou a campanha da anistia, criou o slogan das Diretas Já e fez a primeira passeata pública desse movimento com um pequeno grupo de cartunistas. Era um artista multimídia: Henfil fez humor em jornais, revistas, na televisão, no teatro e no cinema.

Apuro técnico
Mestre na arte do desenho, o chargista Chico Caruso, de O Globo, reconhece a importância do caráter político que permeia toda a obra do colega, mas destaca especialmente o apuro técnico de suas criações.

“O maior legado do Henfil é seu desenho. Mais precisamente, o movimento que seus traços sugeriam, algo difícil de se reproduzir numa folha de papel. Ele conseguia imprimir movimento em algo estático. Além disso, brilhava na questão da agilidade, da perspicácia, da rapidez do ataque através do humor. Apenas a sua participação no Pasquim já bastaria para colocá-lo entre os generais na batalha pela redemocratização do País”, diz Chico, que considera que atualmente falta ousadia aos grandes jornais. “É preciso abrir mais espaço e valorizar as imagens, não só as manifestações por meio do desenho, mas também as fotos”, sugere.

A mesma visão de mercado é apresentada por Ota. “O espaço para desenho está reduzido, até os quadrinhos estão encolhendo, com reproduções miudinhas. Há vários motivos para isso, desde a redução dos jornais, pelo alto custo do papel, e até o perfil dos editores, que não gostam dessa manifestação. O Henfil tinha lugar, pois conseguiu traduzir, em poucos traços, o que a população queria dizer. Histórias impagáveis, como as do Zeferino, duraram anos e anos, tendo só três personagens principais. Ele sintetizava em desenhos o que as pessoas não podiam falar em voz alta”, afirma o cartunista e quadrinista.

À frente do seu tempo
A questão seguinte, então, torna-se inevitável. Será que haveria espaço para personagens como Orelhão, Bode Orelana, Graúna, Cabôco Mamadô, Urubu, Ubaldo e os Fradinhos nas publicações atuais?

“Ah, acredito que ele teria grande dificuldade de se colocar hoje em dia no mercado. Na verdade, nós que militávamos contra os militares acreditávamos que com a abertura poderíamos arrebentar a boca do balão, produzir muito para os jornais. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Com o início da redemocratização, eles foram, aos poucos, dispensando seus desenhistas. Diziam não precisar mais da gente”, avalia Nilson Azevedo, cartunista e quadrinista de Belo Horizonte, que nos anos 70 chegou a dividir um apartamento com Henfil em São Paulo.

“Como sempre, Henfil conseguia se antecipar aos movimentos e tendências. Foi assim que em 1979 se mudou do Rio para São Paulo, onde, segundo ele, todas as coisas importantes, do ponto de vista cultural e político, estavam acontecendo. Ele tinha como referências o Lula, o ABC, Dom Paulo Evaristo Arns… Foi para dividir um apartamento com o Glauco lá na Rua Itacolomi, em Higienópolis. Logo depois, me convenceu a também ir para lá”, recorda Nilson, que conta uma experiência assustadora daquela época.

“Certa vez, a uma da madrugada, subíamos de carro pela Avenida Angélica eu, Henfil, Angeli, Glauco e Tárik de Souza. Fomos parados pela Rota e, após 20 minutos de terror psicológico, com oito armas apontadas para as nossas cabeças, fomos liberados, veja só, com a chegada de policiais civis, que pegaram mais leve com a gente… Naquela noite, achei que a gente ia dançar…”. O episódio vem à tona para descrever peculiaridades da personalidade do cartunista.

“Era impressionante sua coragem. Nesta noite, ficamos todos apavorados. E o Henfil, que era o verdadeiro alvo deles, ficou lá, firme, sem sombra de medo. Ele era uma verdadeira usina de produção, de força. Era capaz de, mesmo doente, hemofílico, colaborar com o Pasquim, produzir para a IstoÉ, fazer o TV Mulher, desenhar para o Jornal da República e para quem mais aparecesse”, diz Nilson, que destaca ainda a rara inteligência do amigo.

“Ele era uma das pessoas mais inteligentes que já vi. Um grande observador. E poderia dizer que ele vivia sob uma espécie de ódio sagrado. Ao mesmo tempo que exibia grande agressividade, era capaz de doses absurdas de compaixão, cultivava as amizades, tinha uma capacidade absoluta de entrega. E era muito divertido, irônico”, descreve Nilson, que hoje, também afastado dos grandes jornais, desenha para causas sociais e sindicatos de Minas Gerais. Ele acrescenta: “Henfil era mesmo uma espécie de farol, alguém que indicava caminhos a serem seguidos. E que influenciou de forma determinante a política da época”.

Prova dessa interferência do artista na política foi a campanha da anistia, iniciada em São Paulo de forma quase solitária por Therezinha Zerbini, sob o nome de Movimento Feminino de Anistia, e que ganhou projeção somente a partir da adesão do cartunista. “A campanha da anistia ganhou força mesmo com as Cartas da Mãe, que o Henfil escrevia para Dona Maria, com viés social e político. Elas foram publicadas na Revista do Fradim, no Pasquim e na IstoÉ. Aí, sim, o País tomou real conhecimento de que havia 10 mil brasileiros exilados, e aquele se tornou um movimento nacional”, lembra Nilson.

Trajetória de sucessos
Henfil nasceu no dia 5 de fevereiro de 1944 na cidade de Ribeirão das Neves. Fez sua estréia profissional em 1964, na revista Alterosa, onde surgiu a dupla de personagens mais conhecida do artista: os Fradinhos. No ano seguinte, passou a colaborar com o jornal Diário de Minas. Em 1968, mudou-se para o Rio e passou a trabalhar no Jornal dos Sports, onde reinventou termos esportivos e criou as figuras dos mascotes das principais torcidas de futebol do Rio de Janeiro. Em seguida trabalhou no Jornal do Brasil, no Pasquim e nas revistas Realidade, Visão, Placar e O Cruzeiro.
Uma produção tão rica e diversificada que, é claro, deixou marcas em toda uma geração de desenhistas.

“O Henfil nos influenciou mesmo. Falo do grupo que se reunia sempre com ele, não tanto da geração em termos de idade. Ele revolucionou o cartum com seu estilo gráfico e com seu modo de trabalho. Na verdade, eu sentia que éramos da mesma geração. Havia uma outra, mais velha, que era a do pessoal do Pasquim, nossos mestres. Mas o Henfil era mais um colega pra mim. Esse era um diferencial. Não sei se ele era um gênio. Costumamos usar esse termo quando existe algo de inexplicável no modo como a pessoa cria seu trabalho. Isso, em alguma medida, existiu no Henfil, que realmente tinha assombrosa performance produtiva. Mas também em vários outros humoristas brasileiros”, diz o cartunista Laerte.

Jornalista e amigo pessoal de Henfil, Tárik de Souza não vacila um segundo ao definir a principal característica da rica obra do cartunista. “O principal traço de seu trabalho era, exatamente, o traço. Revolucionário, porque era econômico e urgente. Ele conseguia desenhar com uma velocidade impressionante. Vale dizer que um de seus principais personagens, a Graúna, é pouco mais do que um ponto de exclamação”, recorda o crítico musical do extinto Jornal do Brasil. “Mas, olhando em volta, o traço mais marcante da sua obra é o seu amor incondicional pelo País, que ele defendia com a mesma fúria com que atacava as suas mazelas”, pondera.

Ainda no aspecto profissional, Tárik conta que sempre se impressionou com a desenvoltura com que Henfil transitava pelos mais variados meios de comunicação e manifestações artísticas. “Também são características dele a versatilidade e a abrangência de seu talento, já que, além dos cartuns e dos quadrinhos, enveredou pelo teatro, com a Revista do Henfil, pelo cinema, com o filme Tanga – Deu no New York Times, pela tv, com a sua TV-Homem, dentro do programa TV Mulher, na Globo, além de livros Diário de um Cucaracha e Henfil na China. Fez até alguma coisa de música na trilha de peças”, relata o crítico de mpb.

“Pessoalmente, o Henfil cultivava os seus amigos com a mesma intensidade com que os cutucava. Gostava de provocar e fazer as pessoas pensarem e repensarem suas atitudes e posições. Por conta da doença crônica era hiperativo e trabalhava com afinco”, descreve Tárik de Souza, que, além da amizade, dividiu com o Henfil a criação de um de seus mais famosos personagens. “Há tempos queríamos criar um personagem, já que eu também sou fanático por quadrinhos. Numa viagem para Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, num fim de semana, surgiu a idéia e o nome do personagem, que refletia o nível de paranóia em que se vivia na época da ditadura militar. Nascia, assim, Ubaldo, O Paranóico” (abaixo).

O prazer de criar um personagem em parceria com o amigo, no entanto, sofreu forte abalo diante de mais uma atrocidade cometida pelo regime, uma das que tiveram maior repercussão dentre as muitas execuções daquela época. “Quando nós voltamos de viagem e compramos os jornais, soubemos que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, que trabalhava na TV Cultura na
época, tinha sido assassinado nos porões da ditadura, que depois tentou forjar um suicídio inverossímil. Com isso, o nosso personagem ganhou ainda mais força”, conta Tárik de Souza.

Henfil faleceu no dia 4 de janeiro de 1988 após contrair o vírus da aids numa transfusão de sangue, procedimento ao qual era regularmente submetido, em razão da hemofilia. A doença crônica também comprometia a saúde de seus dois irmãos – o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o músico Chico Mário.

(Trechos de reportagem publicada originalmente em março de 2009 no Jornal da ABI)

 

A primeira HQ de aventuras do mundo é brasileira!


Um livro importantíssimo para o resgate da obra de Angelo Agostini na História da cultura brasileira é As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora, de autoria do pesquisador Athos Eichler Cardoso, cuja primeira edição foi lançada em 2002 dentro da série Edições do Senado Federal. O livro recebeu o Troféu HQ Mix na categoria Valorização dos Quadrinhos e, justamente por isso, o livro, que estava esgotado, teve uma segunda edição lançada em 2005.

O álbum teve um esmerado trabalho de restauração digital para reproduzir com a melhor qualidade possível, os capítulos das primeiras histórias em quadrinhos brasileiras, criadas pelo mestre Agostini. São elas: As Aventuras de Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, (abaixo) publicados em página dupla na Vida Fluminense, e As Aventuras do Zé Caipora, publicadas na Revista Illustrada, em Don Quixote e, numa última fase, em O Malho.
08-nhoquim Dois momentos do atrapalhado caipira Nhô-Quim

Folhear este álbum impresso em papel couchê e no formato A4 é voltar no tempo e descobrir um verdadeiro tesouro artístico, criativo e absolutamente pioneiro. É compreender melhor como era o Brasil, sua gente e seus costumes em fins do século 19. A recuperação desses documentos, portanto, é essencial para manter um registro iconográfico fiel desse período.

Publicada a partir de 1869, As Aventuras de Nhô-Quim é considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e Agostini foi o quinto artista do mundo a publicar uma hq. A primazia de ser o pioneiro coube a um caricaturista suíço, Rodolphe Topffer, que publicou em 1827 a história Monsieux Vieux Bois. Hoje o autor é considerado o pai dos quadrinhos, apesar de seus traços serem bem primários, quase infantis (como se pode ver clicando no link de seu nome). A história Monsieur Reac, criada em 1948 pelo fotógrafo e desenhista francês Nadar, pseudônimo de Gaspard-Félix Tournachon, é considerada a segunda hq. A dupla endiabrada Max und Moritz, famosa criação do pintor e caricaturista alemão Wilhelm Busch – que inspirou a criação de Os Sobrinhos do Capitão, de Rudolph Dirks –, chegou em 1865 e, dois anos depois Ally Sloper começaria a ser publicada regularmente na revista britânica Judy com desenhos de Charles H. Ross – que também escrevia as histórias – e a elegante arte-final de sua mulher, a cartunista francesa Marie Duval, pseudônimo de Emilie de Tessier.

Uma enorme diferença de 67 anos separa a história em quadrinhos de Topffer da criação do desenhista norte-americano Richard F. Outcault, The Yellow Kid, que era alardeado aos quatro ventos como sendo o primeiro personagem dos quadrinhos (“comics” dos Estados Unidos). Como se pode ver, não é! Yellow Kid só começou a ser publicado em 1894. Até o nosso Zé Caipora, de Angelo Agostini (páginas abaixo), estreou 11 anos antes do garoto amarelo lançado no New York World, de Joseph Pulitzer!

Também não é dos Estados Unidos a primazia de ter lançado a primeira história em quadrinhos de aventuras. Tarzan e Buck Rogers, que os americanos consideram como os primeiros ‘comics’ desse gênero, foram publicados pela primeira vez em janeiro de 1929. Ou seja, 46 anos depois que Angelo Agostini passou a publicar As Aventuras de Zé Caipora.

Quando lançou o primeiro capítulo do seu Zé Caipora, em 27 de janeiro de 1883, Agostini já era um quarentão famoso, dono da principal publicação ilustrada da Corte – a Revista Illustrada – e de um traço refinado. Zé Caipora começou cômico, mas o personagem ganhou nova dimensão criativa e gráfica logo nas primeiras páginas, quando embarca numa aventura pelas desconhecidas selvas brasileiras. A arte seqüencial de Agostini é dinâmica, ágil, elegante e, como linguagem moderna de quadrinhos, antecede em muito tempo seus congêneres Tarzan e Príncipe Valente, ambos de Hal Foster; e Flash Gordon e Jim das Selvas, de Alex Raymond.

Como ressalta Athos Cardoso em seu livro, “cabe a Angelo Agostini o título de avô das tiras de aventura, como precursor da temática e a Zé Caipora, o de primeiro herói brasileiro e universal do gênero”. Realmente, As Aventuras de Zé Caipora pode ser considerada, sem sombra de dúvidas, a primeira história em quadrinhos de aventura do mundo. Que nos desculpe Hal Foster.

Clique nas imagens para ampliá-las em ótima resolução e ver os detalhes do traço de Agostini.

Três preciosidades de Mauricio de Sousa


Há cinquenta anos, os personagens de Mauricio de Sousa já eram bem conhecidos do público, pois suas tiras eram publicadas em mais de 300 jornais em todo Brasil. Também saiam em suplementos infantis como a  Folhinha, que o desenhista ajudou a criar em 1963 juntamente com a jornalista Lenita Miranda de Figueiredo, para a Folha de S.Paulo.

Antes porém, em 1960, eles ganharam as páginas de duas revistas de histórias em quadrinhos – Zaz Traz e Bidu –, lançadas pela Continental, editora capitaneada por Miguel Penteado e Jayme Cortez.

Mas, em 1965 as criações do Pai da Mônica partiram para novos vôos. Foi neste ano que a Editora FTD lançou três livros infantis com diversos personagens do Mauricio. Era a estréia da turminha criada pelo desenhista num outro formato, que iria além dos quadrinhos. Piteco, Penadinho, Astronauta, Zé da Roça e Chico Bento foram os personagens escolhidos para essa nova empreitada.

Além deles,  Niquinho, um personagem totalmente desconhecido hoje em dia, foi o protagonista da história A Caixa da Bondade, que deu nome a um dos livros. O surpreendente é que essa aventura foi desenhada com um traço completamente diferente do estilo de desenho de Mauricio de Sousa (como se pode ver na imagem ao lado).

Cada livro trazia duas historinhas. O já citado A Caixa da Bondade trouxe também uma aventura do Chico Bento. O Astronauta no Planeta dos Homens Sorvete veio acompanhado do Zé da Roça e o Dragão que Não Existia. Já o livro do Piteco veio também com a história do Penadinho Contra o Caçador de Cabeça.

Os livros tinham tratamento luxuoso para a época: capa dura, formato grande (18,6 x 27,7cm) e 68 páginas. Cada página tinha uma grande ilustração e um pequeno texto. A história do Penadinho era um pouco diferente, com textinhos na página da direita e desenhões na esquerda. Além disso, a maioria desses desenhos tinha balões, como nos quadrinhos. 

Infelizmente esses livros são raríssimos e não são facilmente encontrados, mesmo nos melhores sebos. Mas isso promete mudar em setembro. A WMF Martins Fontes vai lançar, num único volume, as seis histórias clássicas, recuperando preciosidades que estavam perdidas no tempo. É um belo presente para Mauricio de Sousa, que faz 80 anos em outubro, e também para seus leitores e admiradores. Pequenos ou grandes.

O livro trará um extra bem bacana: uma entrevista com o criador da Turma da Mônica realizada por Sidney Gusman, responsável pelo planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções.

Sem dúvida, uma boa notícia para os leitores de todas as idades que curtem o trabalho de Mauricio de Sousa e, especialmente, para aqueles que o acompanham desde a década de 50.

Lavagem: um soco no estômago


Resumir Lavagem, do consagrado desenhista e roteirista (e também cineasta) Shiko, como uma história de terror é, no mínimo, deixar de lado toda a pungente crítica social inerente à obra.

O roteiro nos mostra um dia na vida de um casal que vive (vive?) num casebre afastado dentro de um manguezal. O marido, uma pessoa grotesca, cria e fala com os porcos, e acha que a mulher o trai toda vez que vai à igreja. Ela é evangélica e treme quando o pastor grita nos cultos: “Tem hora que parece que é deus passando a mão em mim”, confessa a certa altura. Eles vivem no limite da sanidade, ou da insanidade.

Todos os dias, à noite, ela liga a televisão para ouvir a pregação do pastor, prepara o jantar, pede para o marido largar os porcos e entrar em casa antes que a maré suba. É uma vida de extrema pobreza, repressão e fanatismo religioso. Coincidentemente (ou não), nessa noite em particular, eles recebem a visita de um pastor que ficou preso no mangue por causa da maré alta, justamente quando ele ia pregar na cidade. Pede abrigo e se dispõe a ler “um pouco da palavra”.
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Ela aceita, contrariando o marido brutamontes. O pastor misterioso começa a ler a primeira carta de Paulo aos Coríntios, a partir do versículo 25 do primeiro capítulo, que descreve um deus arrogante como uma criança cheia de vontades, “para que ninguém se vanglorie diante dele”.

Mais do que a violência humilhante da condição humana mostrada até então, o que se vê a seguir é o resultado do conflito de uma verdadeira lavagem cerebral repressora que a mulher é exposta diariamente e que se contrapõem à brutal realidade de uma vida sem esperanças. Alucinação? Fanatismo? Assombração? Shiko nos mostra como a redenção pode ser tão assustadora quanto a loucura. Um verdadeiro soco no estômago.

Responsável pela edição de luxo, a Editora Mino caprichou no álbum de 72 páginas e capa dura, impresso em preto e branco, no excelente papel pólen bold, que valoriza o traço forte do artista. Lavagem foi baseada num curta-metragem homônimo dirigido pelo próprio desenhista, lançado em 2011 pela cooperativa de “curtas de baixíssimo orçamento da Paraíba”, Filmes a Granel. Mas a história em quadrinhos ganha novas nuances, se comparada ao filme.

Shiko, você já deve conhecer: ele é o responsável por obras-primas independentes como O Azul Indiferente do CéuTalvez Seja Mentira, além da adaptação para os quadrinhos do romance O Quinze, de Raquel de Queiroz, para a editora Ática, e da releitura do personagem Piteco, de Mauricio de Sousa, em Ingá, para o selo selo Graphic MSP. E se você não conhece o trabalho desse artista, comece já a ler sua obra.

A turma da Mônica na Suécia


Você conhece Glada Gänget? Os personagens são absolutamente familiares, mas o nome, não. E agora? Nada como consultar o Google Translate para nos ajudar nessa missão nada impossível para descobrirmos que Glada Gänget na mais é do que a tradução de Gang Feliz, ou Turma Feliz! Este é o nome dado para a Turma da Mônica na Suécia. O primeiro número da revista foi publicada há 38 anos, em 1977.

Também é muito legal conhecer o nome que os suecos deram para alguns dos personagens da turminha criada pelo nosso Mauricio de Sousa: Monica é Monika (essa é fácil); Cebolinha é Robban; Cascão é Smutsus; Magali é Pysan; Bidu é Bitsy; Floquinho é Moppen; o elefante mais amado do Brasil é Flumbo; e o Horácio é chamado de… Amfibio.

Para matar saudades do início da turminha, publicamos acima a capa do segundo número da revista Mônica, que chegou às bancas do Brasil em junho de 1970, lançada pela Editora Abril (que estava completando 20 anos de sua fundação).

Ao lado, Cebolinha e Cascão em um dos diversos momentos “sem noção” do galoto que tloca os “eles” pelos “eles”. E abaixo, um momento romântico entre Jotalhão e Rita Najura. O amor é lindo!

[Todas as imagens podem ser ampliadas em ótima resolução: basta clicar nelas.]

Aproveite que você está lendo este texto e CLIQUE AQUI para ler uma ótima entrevista que Mauricio de Sousa concedeu ao Jornal da ABI em 2012, nesta que era uma publicação mensal distribuída para jornalistas.

Naiara vira wallpaper


Graças ao leitor Gustavo Machado, que enviou para Um Blog no Planeta Mongo a quarta edição da revista Naiara, A Filha de Drácula digitalizada em ótima resolução, pudemos criar o papel de parede acima a partir da capa da publicação lançada pela Editora Taika em 1968. Você, fã de Nico Rosso, da personagem e de histórias de terror, pode baixar a imagem para embelezar seu desktop. Ao lado, o leitor aprecia em alta resolução (clique para ampliar) um quadrinho da 25ª página da história A Teia Diabólica publicada nessa edição da revista onde Naiara bebe o sangue de uma vítima numa taça gigante. Drácula não faria melhor! A vampira Naiara foi uma sacada primorosa dos editores da Taika que queriam explorar o charme e o veneno da mulher-vampira brasileira!

Leia mais sobre o pai de Naiara, o temível Drácula, clicando aqui.