Jô Oliveira na AlterLinus


O tempo passa impiedosamente, sem perguntar que dia é hoje, que horas são. Há dois anos prometi divulgar a capa da revista AlterLinus 5, com o desenho do nosso Jô Oliveira, quando escrevi o texto A saga nordestina de Jô Oliveira. Só agora me dei conta de que ainda não havia cumprido a promessa. Mas corrijo esta falha agora.

A data de capa da AlterLinus 5 é maio de 1975 e este era apenas o segundo ano da revista, que foi lançada na Italia em janeiro de 1974 com a missão de publicar principalmente histórias mais densas e de aventura, deixando sua irmã editorial, a famosa revista Linus, publicada desde 1965, com as tiras de humor.
 
Isso não quer dizer que a nova publicação deixaria de lado as tiras cômicas, mas elas teriam um espaço bem definido. Na AlterLinus 5, por exemplo, a exceção coube à Dropouts, de Howard Post, que ocupou as duas contra-capas. Foram publicadas também três páginas dominicais de Snoopy, de Charles M. Schulz, e uma história com sete páginas de Popeye, de Bud Sagendorf. Mas estas não eram tiras.

Presentes na edição outros grandes mestres do traço. A revista começa com o terceiro e último capítulo da história Viet Blues, uma aventura do detetive Alack Sinner, criado pelos argentinos José Muñoz e Carlos Sampayo. O desenhista Muñoz faz um admirável trabalho de claro-escuro nas histórias de seu personagem, além imprimir um ritmo cinematográfico nos cortes dos quadrinhos.

Acima, mais uma página de Alack Sinner, de Muñoz. Abaixo, Dick Tracy.

Na seqüência da revista aparece um clássico dos quadrinhos que ocupa nada menos do que 31 páginas: Dick Tracy, de Chester Gould. Em seguida, outra aventura onde o claro-escuro dá o tom gráfico da história: Yves Sainclair (página abaixo), de Claude Moliterni, com desenhos de Patrice Serres, desenhista francês que é discípulo do renomado Frank Robbins, criador de Johnny Hazard.

O belo conto L’uccello Adolfo, do famoso escritor e ilustrador estadunidense Edward Gorey, ocupa as oito páginas seqüentes (essa história pode ser “vista” no YouTube),

e elas antecedem à terceira e última parte de Riflesso, uma história de Valentina, de Guido Crepax.

Agora chegamos ao ponto alto de AlterLinus 5, de 1975, (não por acaso, a história da capa): a partir da página 76 começa La Guerra del Regno Divino, de Jô Oliveira. São 16 páginas de encher os olhos. Não que as outras histórias não fossem ótimas. E essa é a grande qualidade da publicação: grandes nomes dos quadrinhos do mundo inteiro dão brilho especial em todas as páginas da revista. Mas A Guerra do Reino Divino deu à publicação uma sofisticação gráfica única. Jô Oliveira apresenta a mais perfeita fusão entre a arte da literatura de cordel e as histórias em quadrinhos, resultando num trabalho de impacto visual que se destaca entre todos. Naquela época, em 1975, Jô Oliveira fazia carreira na Europa e era praticamente desconhecido no Brasil. Um pecado! (leia mais aqui)

A revista encerra a edição com as 13 páginas da série Fosdyke Saga, do cartunista inglês Bill Tidy, além das histórias já citadas de Popeye e Snoopy.

Enquanto foi editada a AlterLinus publicou quadrinhos de nomes como Hugo Pratt e seu Corto Maltese; Pichard e Wolinski, com Paulette; Crepax e sua Valentina, além de Moebius, Sergio Toppi e do brasileiro Jô Oliveira. O primeiro número, em 1974, trouxe o início da clássica adaptação de Ulisses, de Homero, por Lob e Pichard. Pena que não se editam mais revistas assim.

Todas as imagens que ilustram este texto podem ser ampliadas: basta clicar nelas.

Jabuti não premia quadrinhos


Depois que o Grupo Editorial Record ameaçou boicotar o Prêmio Jabuti em protesto contra a escolha de Leite Derramado, de Chico Buarque, como vencedor na categoria Livro do Ano de Ficção (na categoria Romance a obra de Chico ficou em segundo lugar, atrás de Se Eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre, publicado pela Record), a Câmara Brasileira do Livro (CBL) fez várias mudanças no regulamento do tradicional prêmio para tentar apaziguar os ânimos. Entre outras novidades deste ano, o número de categorias aumentou de 21 para 29. Ou seja, a quantidade de categorias possíveis de premiação aumentou em quase 40%! São elas:

Melhor Livro de Arquitetura e Urbanismo 
Melhor Livro de Fotografia;
Melhor Livro de Comunicação;
Melhor Livro de Artes;
Melhor Livro de Teoria/Crítica Literária
Melhor Livro de Ciências Exatas
Melhor Livro de Tecnologia e Informática
Melhor Livro de Educação
Melhor Livro de Psicologia e Psicanálise
Melhor Livro de Reportagem
Melhor Livro Didático e Paradidático
Melhor Livro de Economia, Administração e Negócios
Melhor Livro de Direito
Melhor Livro de Biografia
Melhor Livro de Poesia
Melhor Livro de Ciências Humanas
Melhor Livro de Ciências Naturais
Melhor Livro de Ciências da Saúde
Melhor Livro de Contos e Crônicas
Melhor Livro Infantil
Melhor Livro Juvenil
Melhor Livro de Romance
Melhor Livro de Turismo e Hotelaria
Melhor Livro de Gastronomia

Além dos prêmios para Melhor Tradução; Melhor Projeto Gráfico; Melhor Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil; Melhor Ilustração e Melhor Capa.

Notaram? O Prêmio Jabuti valoriza diversas áreas: Ciências da Saúde, Psicologia e Psicanálise, Turismo e Hotelaria, Gastronomia, Tecnologia e Informática. Tudo muito justo. Mas esqueceu de um importante segmento que, a cada dia, ganha mais espaço nas boas livrarias do ramo: os quadrinhos! Por que não incluir uma categoria de Melhor Livro de Histórias em Quadrinhos, já que temos tantos e tão bons lançamentos mensais? Preconceito? Ignorância sobre o assunto? Não sei ainda. Mas vale a pena tentar descobrir o motivo.

Charlie Brown e Steve Canyon, dos geniais Charles Schultz e Milton Caniff respectivamente, aparecem neste texto só para ilustrar mesmo. Não têm nada a ver com a notícia. Pelo menos, por enquanto.