Conhecido por dirigir grandes sucessos do cinema como Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ET – O Extraterrestre, a série Indiana Jones, A Lista de Schindler, e o recente Cavalo de Guerra, entre outros, o cineasta Steven Spielberg sonhava em fazer um filme com Tintim desde 1981. Ele já havia demonstrado seu interesse diretamente a Hergé, mas o licenciamento final só foi resolvido em 2007.
A partir daí e com o apoio do diretor neozelandês Peter Jackson, realizador da saga cinematográfica de O Senhor dos Anéis, Spielberg começou a preparar os roteiros para uma trilogia com o personagem e passou a produzir o primeiro longa-metragem, o que gerou grande expectativa do público.
Finalmente, em outubro de 2011, As Aventuras de Tintim (The adventures of Tintin) foi lançado na Europa. Bélgica, lar de Tintim, e França tiveram a primazia de ver o filme em pré-estréia um dia antes dos outros países. A data de lançamento oficial do longa no Brasil é 20 de janeiro de 2012, mas já estava sendo exibido em sessões de pré-estreia em diversos cinemas.
As Aventuras de Tintim inaugura um novo conceito em animação que eleva a arte a um patamar inédito de realismo e deve indicar um novo rumo para o cinema de animação e para algumas adaptações de quadrinhos. A animação foi produzida através de uma tecnologia de captação de movimentos reais, conhecida como “motion capture”, a mesma usada no filme O Senhor dos Anéis para o personagem Gollum. Mas o resultado é superior em acabamento e texturas e torna o espetáculo visual tão empolgante quanto os filmes de Indiana Jones, com o qual guarda um parentesco bastante próximo.
Baseado na articulação de trechos de três aventuras de Tintim, o filme consolida uma dinâmica própria, ainda que em tudo respeitosa ao legado do artista belga Hergé. Em sua primeira metade – a parte belga da história – a produção obedece a cadência original que Hergé impunha aos seus roteiros, com o mesmo tipo de humor que caracteriza seus personagens. Mas a parte central tem o ritmo de montanha russa que acostumamos a reconhecer como característica do diretor em filmes de aventura.
A história começa seguindo o roteiro do álbum O Segredo do Licorne. Logo na primeira cena, Spielberg presta uma homenagem a Hergé, que aparece fazendo uma ponta como um desenhista que faz a caricatura de Tintim numa feira de antiguidades ao ar livre no centro de Bruxelas. Passeando pela romântica praça, Tintim compra a bela miniatura de uma caravela – o Licorne – que imediatamente passa a ser disputada por mais dois homens. O interesse deles não é ocasional, pois sem que o jovem repórter saiba, a miniatura esconde a pista para a localização de um tesouro histórico. Seu faro jornalístico é aguçado e ele e seu cão Milu são envolvidos numa trama de violência patrocinada por Saccarin.
A partir daqui a história segue o roteiro de O Caranguejo das Pinças de Ouro. Seqüestrado pelos asseclas do vilão e aprisionados no navio cargueiro Karabudjan, Tintim e Milu vão conhecer Haddock, o alcoólatra mas inocente capitão do navio e, juntos, impedir a concretização dos planos de Saccarin. A aventura os levará do meio do Oceano Atlântico ao deserto do Saara, de uma perseguição alucinante pelas ruas de uma cidade árabe no melhor estilo Indiana Jones, ao incrível duelo final no cais de Bruxelas com guindastes enormes.
O final da história salta novamente para outra aventura, usando a conclusão de Hergé para O Tesouro de Rackham, o Terrível. Um gancho óbvio já antecipa a seqüência que, desde o início, está prometida para Peter Jackson e será baseada nas histórias As Sete Bolas de Cristal e O Templo do Sol. A terceira e última parte da trilogia ainda não há diretor definido mas contará as histórias de Rumo à Lua e Explorando a Lua.
Mesmo quem nunca ouviu falar de Tintim não terá dificuldade para aproveitar o filme, que se sustenta por si. Mas aqueles que já o conhecem vão encontrar inúmeras referências e “ovos de páscoa” espalhados pelas cenas, o que torna a experiência cinematográfica ainda mais divertida.
As Aventuras de Tintim é um delicioso filme de ação e também é uma homenagem emocionante ao gênio de Hergé que recupera para as novas gerações uma das obras primas da arte dos quadrinhos.
Spielberg e Peter Jackson durante a produção da animação As Aventuras de Tintim. Foto de Andrew Cooper. Todas as fotos que ilustram este texto podem ser ampliadas em ótima resolução.
Este texto foi escrito por César Silva, editor do ótimo blog Mensagens do Hiperespaço, com edição final de Francisco Ucha.