Álvaro de Moya e os 60 anos da exposição de 1951


Hoje é um grande dia para os quadrinhos mundiais! Faz 60 anos que cinco jovens artistas idealistas – Álvaro de Moya, Jayme Cortez, Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado – criaram a Primeira Exposição Internacional de Histórias em Quadrinhos, cuja abertura aconteceu no dia 18 de junho de 1951 na sede do Centro de Cultura e Progresso, no Bom Retiro, em São Paulo. Segundo o jornal O Globo que circulou no dia da inauguração do evento, “a iniciativa não tem finalidade de lucro. A exposição tem caráter elucidativo, didático, técnico, artístico, guardando, porém, a devida acessibilidade ao público.” Jayme Cortez, um dos organizadores do evento, declarou ao jornalista Tito Silveira em matéria publicada na Tribuna da Imprensa – outro jornal carioca que cobriu o evento –, que eles querem “mostrar que as histórias em quadrinhos, quando bem executadas, são verdadeiras obras de arte, com a sua linguagem própria e em idade adulta.”

É bom que se diga que os quadrinhos naquela época eram combatidos ferozmente por “defensores da família e dos bons costumes”. As revistas em quadrinhos eram consideradas uma ameaça à juventude. Por isso a atitude desses cinco rapazes paulistas foi muito corajosa e exemplar. Em declaração na mesma matéria de O Globo, Álvaro de Moya explicou que se generalizou no Brasil, “onde ainda não apareceu um crítico sequer ou literato que entendesse, o péssimo costume daqueles que, no aparecimento das primeiras letras, no nascimento do cinema, etc, se revoltaram contra a juventude e procuraram cercá-la de adjetivos desairosos.”

Álvaro de Moya era desenhista na época. Foi chargista e ilustrador do jornal O Tempo, de São Paulo, a partir de julho de 1950 (o desenho acima foi publicado nesse jornal em 7 de dezembro de 1952). Participou também da inauguração da televisão no Brasil, pois foi o responsável pelos desenhos dos letreiros do programa de inauguração da TV Tupi, em 18 de setembro de 1950. Desenhou as adaptações para os quadrinhos de A Marcha, baseado na obra de Afonso Schmidt, para a revista Edição Maravilhosa, da Ebal, e Zumbi, sobre a vida do Rei dos Palmares.

Desenhou também Macbeth, de Shakespeare, para a revista Seleções de Terror, editada por Jayme Cortez. Abaixo, a primeira página da história e mais embaixo, um quadrinho de Macbeth no detalhe. A respeito dela, Moya sempre lembra que não foi ele quem fez toda a arte-final: “Jayme Cortez me ajudou a passar o pincel em vários quadrinhos”. E realmente dá para perceber o traço de seu grande amigo. Essa história está nos anais dos quadrinhos brasileiros porque juntou dois mestres: Álvaro de Moya e Jayme Cortez!

Depois os caminhos da vida levaram Moya para a televisão. Além de trabalhar na Tupi, inaugurou a Bandeirantes, foi diretor da Tv Excelsior. Mas nunca deixou de acompanhar sua verdadeira paixão de perto. Hoje, 60 anos depois dessa incrível aventura que aconteceu em 1951, ele guarda mais do que lembranças. Guarda orgulho de dizer: “Fomos os primeiros!”

Na foto do alto, Álvaro de Moya olha para vários originais grudados na parede. São páginas de A Marcha, a história em quadrinhos que ele desenhou para a revista Edição Maravilhosa, da Ebal. Lindos originais, por sinal. Em breve falaremos sobre eles!
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